“La Strada is on Fire (And We Are All Naked)” reviewed by Blitz

Há títulos que se apossam das obras que nomeiam. Tornam-se guardiões, mediadores e senhores do seu conteúdo. É preciso ceder à sua chantagem,é inevitável que se lhes obedeça. Esforço inútil, porque jamais conseguiremos ver-nos livres da sua presença. Muito menos quando um título tem um poder tão evocativo quanto La Strada Is On Fire (And We Are All Naked). É preciso dize-lo: este título é um prodígio. Tem o equilíbrio necessário entre o poético, o absurdo e o visual. É um daqueles títulos de que nos vamos lembrar para o resto das nossas vidas. Não interessa se era essa a intenção do seu autor, mas a este que vos escreve lembra uma clássica fotografia tirada no Vietname, com uma criança a correr em lágrimas, nua, fugindo do bombardeamento americano à sua aldeia.

Isso e, claro, Fellini, numa intromissão absurda mas nem por isso menos pertinente.

É, portanto, difícil ouvir este disco sem lembrar o seu título. É difícil percorrer o seu terreno sem pressentir a chama azul, quase invisível, que o queima. Não se pode dizer que arrepie, transforma antes a pele em prata esvoaçante. Vêmo-la a tornar-se fuligem cromada, a desaparecer na contra-luz digital. Ouvem-se, a espaços, um piano, saxofones, um baixo e vozes, ensaiando odes, saindo-lhes lamentos desajeitados, comprometidos – conseguem mais depressa ser espectros de monólogos a quererem fugir do palco. Quando bem usado, o napalm até a luz queima. Um dano colateral, tal como o obtido com o título deste disco.. 7/10

Sérgio Gomes da Costa

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