“La Strada is on Fire (And We Are All Naked)” reviewed by Bodyspace

A música recorre a um complexo jogo de formas sonoras, onde os saxofones desempenham um papel meritório na construção de ambientes nebulosos, que podiam encaixar perfeitamente em esferas de pânico ao mais nobre estilo suspense digital. O álbum ajusta-se à coerência da editora, englobando música abstracta, pensativa e recolhida, deslumbrada com a manipulação e apaixonada pela técnica, embora traga consigo grandes problemas de concentração e apreensão ao ouvinte mais desatento e desprevenido. Dado o facto de este ser um tipo de ambientes que exige um suporte e contextualização, sob pena de se perder pura e simplesmente o fio à meada, o título do disco acaba por sugerir quase uma ideia de craveira a seguir, para que os sons que ouvimos tenham de facto um sentido. A envolvência chega a ser doentia, de retoques frívolos num caminho pós-incêndio que se estatela a nossos pés. Dispensando títulos nas faixas e contando com a colaboração de Martin Archer, Rodrigo Amado, Victor Coimbra e Mariana F, podemos ainda encontrar trechos de um discurso de Bill Clinton e sons de anúncios de televisão.

A existência de uma componente vídeo volta a ser uma característica a assinalar da chancela Crónica. Desta feita é apresentada uma composição de título “La Strada is on Fire” (único tema com nome), que recorre a um estilo muito característico dos artistas com base electrónica. Confuso, mas decididamente interessante.

Como se a estrada ardesse mesmo à nossa frente, e nós estivéssemos desprevenidos com tamanho susto. Sem protecção, amparo ou abrigo, despidos de uma crueza que nos coloca perante um acto eminentemente perigoso. Não que não gostemos de passar por esta situação algumas vezes, mas é levada aqui a um ponto que deixa qualquer pessoa, no mínimo, desamparada. 7/10

Tiago Gonçalves

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