“Bittersweet Melodies” reviewed by Bodyspace

cronica109-2016_520
É um cliché dizer que uma determinada música parece ter sido feita a pensar num filme, seja esse filme real ou imaginário. No seu 11º álbum, o israelita Ran Slavin deu um pouco a volta a esta boutade; Bittersweet Melodies soa não a longa-metragem, mas a uma colecção de vignettes com pontos em comum entre si, que acabam por valer não só por si mas também como um todo. Influências do seu trabalho na área do cinema? Talvez.

O material aqui presente é-nos apresentado como tendo já uma longa vida antes da sua apresentação ao mundo; os temas de Bittersweet Melodies andavam espalhados «por várias hard drives» e foram agora recauchutados, reinterpretados, renovados. O som, esse, espelha ainda alguma degradação – dos cliques, dos beats, dos sintetizadores em baixa fidelidade. A maquinaria em “Saturday’s Dress” vai pingando sobre drone na introdução ao mesmo, que é cortada pela aura noir presente em “Category: Murdered Entertainers”.

Depois disso, há que prestar atenção para não perder o fio à meada. A fita vai-se desfazendo aos bocados, impedindo a visualização exacta do que se passa, mas essa aqui é uma virtude. Os sons vão-se sucedendo, sejam os da música ou os do fogo que a incendeia, num crepitar downtempo que tem nos ecos glitch de “Sad But True”, na bossa nova de “Sinatra Was Here” e no ritmo quase hip-hop de “Fast Moving Circumstances” bons motivos para ver o filme até ao fim. Haja ou não pipocas. Paulo Cecílio

via Bodyspace