“Hidden Name” reviewed by Jazz e Arredores

O sonho antes de acordar, quando as formas começam a ganhar contornos e a consciência começa a organizar os últimos fiapos de matéria irreal. Em “Hidden Name”, Stephan Mathieu e Janek Schaefer, cúmplices de anteriores apresentações públicas, como os festivais MUTEK/2002 (Canadá) e Musica Genera/2005 (Polónia), tornam perceptível essa passagem de forma plasticamente sedutora, oscilante e circular no movimento cíclico de ampla e planante espacialização. A acção passa-se no meio das paisagens naturais e ambiente bucólico de que beneficiaram os artistas aquando da estadia conjunta no Verão de 2005 na Manor Farm House, uma cottage propriedade de um compositor de música clássica, situada algures no Sul de Inglaterra.

No local, Stephan Mathieu e Janek Schaefer usaram instrumentos acústicos e electrónicos, e gravações de campo. O som foi posteriormente tratado no York Music Research Center, estúdio em Inglaterra tecnologicamente apetrechado para o efeito. Do trabalho de composição, montagem e edição resultou uma música carregada de sugestões pastorais envoltas em finas camadas de neblina, que ora ameaça chuva eminente, ora anseia pelo sol que a há-de dissipar.

Na mistura é possível identificar estática e estalidos de discos vinyl, vozes humanas, canto de pássaros e uma infinidade de camadas sobrepostas de sons instrumentais (piano, violino, clarinete, violoncelo, flauta, acordeão, cítara, sinos…), transformados, processados e harmonizados em estúdio, via computador. Há aqui uma interessante dimensão conceptual de corpos em suspensão, que se vão transformando lentamente, texturas unidimensionais que se tornam progressivamente mais complexas ao sabor de movimentos lentos e formalmente despojados, em que o que conta sobretudo é a tensão que prenuncia algo que está para acontecer. O mistério adensa-se e permanece por desvendar, por muito que se ouça “Hidden Name”, um disco especial. Edição recente da portuguesa Crónica Electrónica, distribuída por Matéria Prima. Design de M. Carvalhais.

Eduardo Chagas

Leave a comment