Aqui, a primeira parte é ocupada com “Tropical Agent”, tÃtulo que nos remete logo para os campos do romance policial. O resto da sugestão é dado pelos tÃtulos dos temas, tais como “Silent Siren”, “Guitar String / Empty Streets”, “Flat tire at the dead sea” ou “Triggers of Violence”. Escutados, são registos bem menos lineares do que isso. São percursos por texturas com as pontas dos samples frias, vigiados por um rumorejar constante. A cada faixa um latejar próximo da insónia, em deturpação lenta, como reminiscências de ecos. Não são paisagens onÃricas porque a adrenalina não deixa, não são progressões dinâmicas porque o torpor é excessivo. Fica-se entre a familiaridade e a estranheza, numa terra próxima do que a ambiguidade permite. É desse enclave que o negrume nos crepita.
A segunda parte do disco chama-se “Ears in water”, o que não significa transição pronunciada. Por o método ser semelhante também a atmosfera é próxima de “Tropical Agent”. Começa em estado de perturbação cândida, quase melódica (“Vista Plain”), passa por um spoken word monossilábico (“Girl in water”), ruma à abstracção (em dois temas apropriadamente sem tÃtulo), e termina na sugestão instrumental de “Piano”. Também esta é uma sequência belÃssima, num dos discos mais acessÃveis da Crónica — talvez por ter uma maior intervenção orgânica, cortesia de sons instrumentais ou informais. (7/10)
Sérgio Gomes da Costa