(…) Mais surpreendente, no entanto, é o primeiro volume de «A Compressed History of Everything Ever Recorded», outra novidade do catálogo Crónica, não por o misterioso Autodigest (quem será?) cumprir o que promete no tÃtulo (é uma impossibilidade, obviamente), mas pelo nÃvel conceptual que assiste ao presente trabalho (deliciosa, a menção de que esta música foi composta por “toda a genteâ€). O CD é anunciado como uma simulação de um processo de implosão cultural e uma compressão espaço-temporal por meios digitais (uma das peças intitula-se, esclarecedoramente, «60 Hours in 1 Second»), e a verdade é que, uma vez ou outra, entre sons parasitas, escórias, depósitos, cliques e estalidos, podemos escutar fragmentos de canções. Não se trata de um produto mais das correntes plunderfónicas e plagiaristas, pois o que interessa nesta música não são as apropriações efectuadas e o que se fez com elas, mas sim a forma como se personalizam esses “roubos†e se mascara a sua natureza. O que significa que este não é propriamente um documento sonoro “arqueológicoâ€, ao contrário do que se indica nas “liner notesâ€. Na verdade, toda a perspectiva histórica é destruÃda.
Rui Eduardo Paes