Pedro Rebelo’s “Listen to me” reviewed by Rimas e Batidas

No texto em que se apresenta Listen to me, na página reservada a este lançamento na plataforma Bandcamp, explica-se com algum detalhe o percurso artístico e académico de Pedro Rebelo, artista, investigador e pedagogo com impressionante currículo, que é actualmente Professor de Artes Sónicas na Queen’s University de Belfast. Rebelo foi recentemente agraciado com dois importantes subsídios pelo Arts and Humanities Research Council que suportarão alguns dos seus projectos de investigação, incluindo um com o título Sounding Conflict em que se propõe analisar as relações entre o som, a música e situações de conflito. Coordenadas que, certamente, melhor amparam a audição de Listen to me, que pode, estando o ouvinte de posse dessa informação, ganhar outro tipo de relevância.

As duas peças que compõem esta obra, que a Crónica disponibiliza em edição digital ou em cassete, foram realizadas no âmbito de uma residência que decorreu em Braga, em 2017, no International Nanotechnology Laboratory. Pedro Rebelo propôs-se captar os sons que povoavam o ecossistema aural do laboratório, o som das máquinas laboratoriais, mas também das ventoinhas que faziam o ar circular, o som dos processos – como o que resulta do acto de despejar nitrogénio líquido ou os “banhos” ultrassónicos usados para misturar certos compostos, explica-se. Este laboratório, conclui-se aí também, estava cheio de sons e ruídos que, de certa forma, e cada um à sua maneira, imploravam “escutem-me”.

Ora, esse é, precisamente, o distinto “olhar” de um criador que se afirma quando presta atenção e encontra interesse naquilo que a maior parte de nós ignora. Quem porventura já possa ter passado longos períodos de tempo em espaços muito preenchidos deste tipo de sons artificiais e mecanizados, sobretudo se repetitivos (como os que se escutarão numa fábrica com uma linha de montagem, numa enfermaria de hospital, numa oficina ou estação de comboios), reconhecerá que se costuma investir algum esforço numa tentativa (tantas vezes vã) de se “abstrair” desses sons, de os bloquear ou ignorar. O que acontece muitas vezes, no entanto, é que esses sons se tornam familiares, são absorvidos e quase passam a ser uma espécie de novo silêncio.

Aqui, Pedro Rebelo observa minuciosamente os detalhes, e com os pulsares, com os diferentes ruídos, repetidos ou não, curtos ou contínuos, constrói o nítido retrato de um espaço que, curiosamente, surge diante dos nossos ouvidos como inumano, vazio de vida, mas preenchido de ânimo tecnológico, um verdadeiro organismo complexo, que entrega ao ar um conjunto de diferentes frequências decorrentes do funcionamento dos diferentes aparelhos que no laboratório procuram soluções para resolver problemas, caminhos para transformar o mundo, conhecimento, saber. Sons da ciência, na verdadeira acepção da expressão. Sons da humanidade, portanto. Sons que pedem para serem escutados. Porque estão vivos, enfim. Rui Miguel Abreu

via Rimas e Batidas