Nascido em 1963, Roel Meelkop “estudou artes visuais e teoria da arte†em Roterdão, na Holanda. A sua prática musical recua ao inÃcio dos anos 80, altura em que criou o projecto THU20 com Jac van Bussel, Peter Duimelinks, Jos Smolders e Guido Doesborg, colectivo cujas edições – realizadas entre 1986 e 2020 – espelham uma actividade contÃnua e prolÃfica.
Meelkop tem ele mesmo uma abundante discografia que se estende entre meados dos anos 90 e o presente, perÃodo dilatado em que acumulou vasta experiência e que lhe permitiu colaborar em múltiplos contextos com artistas muito diferentes.
Nas notas de lançamento de Crossmodulated, Roel Meelkop adianta ainda que nos últimos anos se concentrou sobretudo em trabalho ao vivo, “especialmente em colaboração com outros artistas como Jos Smolders, Machinefabriek, Das Synthetische Mischgewebeâ€, revelando também que a sua “prática de estúdio recebeu um novo alento com a descoberta da sÃntese modularâ€, descoberta essa que credita ao seu companheiro criativo de longa data Jos Smolders.
A edição presente, explica igualmente o autor, resulta de combinação de sessões de sÃntese modular com gravações de campo, com origem no seu arquivo e em trabalho efectuado em tempos mais recentes. Crossmodulated é assim uma obra profundamente abstracta, experimental na forma como procura testar pontes e ligações entre os sons captados nas gravações de campo e depois altamente processados em estúdio (pouco aqui soa “naturalâ€), sendo por isso mesmo tratados como matéria aural análoga aquela que é gerada pelos impulsos eléctricos que percorrem o seu sistema modular. A ideia, aliás sublinhada pelo tÃtulo, parece ser a de eliminar a diferença ou a distância entre o que é som “sintético†e o que foi captado nas gravações de campo, criando um corpo sónico único, sólido, sem margens ou caracterÃsticas definidas.
O lado B da cassete abre com “Crossmodulated 4â€, tema que vive de um pulsar rÃtmico que parece ter sido captado num qualquer dispositivo mecânico, mas que funciona como o elemento propulsivo que nos carrega até bem perto do silêncio que depois se explora a seguir. O longo drone a que se sobrepõem umas parcas notas do que soa a um piano evoca o som da própria tensão, como se o tema servisse de banda sonora a um thriller psicológico moderno, rodado quase sem luz, numa estrutura industrial abandonada. Mas para evitar spoilers de qualquer espécie, o melhor mesmo é que vejam vocês o “filmeâ€, com os olhos bem fechados, obviamente, e que tirem as vossas conclusões (sim, vocês os três…). Rui Miguel Abreu
via Rimas e Batidas