“Täuschung” reviewed by Jazz e Arredores

Trinta e uma pequenas peças, ásperas como um raio, mas o certo é que à segunda, terceira passagens, as linhas mais angulosas parece que se limam um pouco, ajustando as peças para uma escuta mais conveniente. Falo do mais recente lançamento, o trigésimo (parabéns!), da editora lusa CRÓNICA, Täuschung, do austríaco de origem bósnia, Davor Mikan. Uma mistura de música algorítmica e música “feita à mão”, como a descreve o artista, que utiliza ferramentas digitais de desenho gráfico para manipular e transformar sons sacados do seu computador. O produto é uma luxuriante selva noise digital que o músico vienense desbrava, domestica e serve em fatias finas. Mesmo assim, a digestão não é fácil e requer alguma preparação para assimilar este material, por vezes próximo de algum ruidismo industrial ou do white noise de praticantes como Merzbow. Pessoalmente, agrada-me bastante o género, preferindo embora peças mais desenvolvidas que estes breves apontamentos de Davor Mikan, com demasiados intervalos a fragmentar o que melhor soaria contínuo ou prolongado. As faixas n.º 24 (Dunkelnder) e n.º 29 (Ein Tag), mais longas, são as que melhor permitem uma exposição sequencial. Quanto à substância, música e criador têm uma identidade ainda por construir, mas o caminho está à vista e apela a uma maior intimidade entre o homem e a máquina. Täuschung é o termo gemânico para decepção, que se refere a um conjunto de ideias e conceitos emocionais que Davor Mikan integra naquilo que designa por “context of psychoacoustic effects in a personal sense (self-delusion)”.