“Musicamorosa” reviewed by Jazz e Arredores

O trabalho do artista sonoro Jorge Mantas, aka The Beautiful Schizophonic, foi acrescentado de um novo capítulo, intitulado Musicamorosa. Mantas mergulha agora na procura do denominador comum entre as emoções próprias do romantismo de Marcel Proust, de À la Recherche du Temps Perdu, dos aspectos relacionados com o amor romântico, sofrido e melancólico, e a estética musical que o designer sonoro prossegue neste tempo – a mesma cumplicidade na solidão melancólica do acto criativo, na sua dimensão psicológica e introspectiva. A técnica de The Beautiful Schizophonic utiliza o laptop para criar drones ambientais circulares e micro-sons de progressão horizontal, processos de transição em contínuo que se vão metamorfoseando em diversos composto de fragmentos melódicos, partículas em suspensão e poeira sintética, granulado fino e estaladiço. Os sons são montados em elaboradas sequências de feição impressionista, frases longas como as de Proust, reconhecíveis através da memória e percepção, por referência a fontes naturais (guitarra, voz humana, respiração – Colleen recita La Lectrice – água), e outros que, não existindo no mundo orgânico e material, apenas na imaginação do autor, dele passam a fazer parte como por osmose, preservando uma interessante dualidade antigo (preexistente) / moderno (inventado). Por outro lado, há na música de The Beautiful Schizophonic um profundo respeito pelo silêncio interior dos corpos sombrios. Deles, só se percebem os contornos difusos que chegam até nós como brisa suave. Musicamorosa consegue apreender e comunicar a aura romântica da solidão interior do indivíduo no acto de criação. Nessa medida, é um bom trabalho de sonorização de ideias e emoções, muito mais do que manifestar o aparente encontro da literatura com a electrónica. Sons e memórias de um passado futuro, real e imaginário. Todos os títulos das peças são retirados de À la Recherche du Temps Perdu, de Marcel Proust. Colaborações de Paulo Silva (Arcano Zero), José Luís Merca (Matéria Prima), Tobias Strahl (Dies Natalis), Christina Vantzou (grafismo) e @c (Pedro Tudela e Miguel Carvalhais).

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