“Flow” reviewed by Jazz e Arredores

A mais recente edição da editora lusa Crónica Electrónica é dedicada ao trabalho do artista português da expressão sonora e da improvisação electrónica, Vítor Joaquim. Depois de “La Strada is on Fire (and We Are All Naked)” – Crónica Electrónica 03, de 2003 – Vítor Joaquim apresenta uma bem conseguida sequência de deambulações e confrontos de sons produzidos e trabalhados através de máquinaria electrónica, parcialmente gravados ao vivo no festival “Ó da Guarda”, em Julho de 2005. Reforçado com os contributos pós-produção de Emídio Buchinho (guitarra no tema Thinking Moments), de João Hora (guitarra em Moments of Emptiness) e dos murmúrios vocalizados de Filipa Hora, ao fluxo dominante de “Flow” somam-se ainda sons aleatórios de televisão, tudo processado e montado numa bem articulada combinação organo-digital. Feixes de vibrações mínimas nascem, crescem e amplificam-se resolutamente até se desvanecerem e darem lugar a novas e interessantes figuras que convergem para o silêncio fecundo e inicial. Micro-electrónica, ruído modulado e glitch digital convivem no interior de paisagens surreais, que, sem seguirem um único figurino estilístico, apelam a um imaginário melancólico de líquidos borbulhantes que se misturam e fundem numa narrativa porventura mais concisa e refinada que em anteriores trabalhos. “Flow” (Crónica Electrónica 25) possui uma acentuada característica cinemática em que som e drama evoluem a par e passo, traduzindo-se em luxuriante prazer audiovisual. Excelente.

Eduardo Chagas

Leave a comment