“v3” reviewed by Bodyspace

O resultado fala por si mesmo: v3 é a intersecção de múltiplas linhas, o local puro de confluência de várias estéticas naquilo que é a procura de Pedro Tudela e Miguel Carvalhais de alcançar a perfeita combinação de vários componentes. Os primeiros dois temas flutuam por entre camadas mais ambientais, imprevisíveis estrépitos e bulícios, texturas sombrias de uma guitarra que produzem molduras denodadas, breves estalidos e um quase murmurar que rasga o tegumento externo que envolve o corpo. A partir daqui, assiste-se a um desenrolar de faixas que exploram a fragmentação de elementos, um percurso onde se restituem as batidas (cardíacas) a um território plano onde se juntam samples, naquilo que é a edificação de horizontes cerrados, planícies carregadas de uma obscuridade assumida e consciente. Aqui, caminha-se e sobrevive-se num limbo entre a reminiscência e a omissão, entre a purificação e a escuridão.

A complexidade das composições resulta de um experimentalismo, de uma composição em tempo real e, acima de tudo, da reunião das sonoridades extraídas dos laptops e das guitarras. As incursões rítmicas, que se fazem sentir especialmente a meio do disco, impelem para um movimento de dilatação e contracção, irregularidade da pulsação, pré-arritmia. O latejo rítmico é secundado por tramas tecidas à luz do improviso, pelo natural discorrer de ambiências soturnas. O mutismo e o desabitado são interrompidos por erupções e por porções ruidosas que emergem do fundo de um enredo digital, fornecendo a estas contexturas a quantidade suficiente de inquietação para que as entranhas sejam remexidas. No fim, todas estas estéticas sonoras complementam-se de forma lógica fazendo de v3 um coerente seguimento do caminho traçado em Hard Disk, o anterior trabalho de Pedro Tudela e Miguel Carvalhais.

André Gomes

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