Parte-se então para novos processos de abstracção/concretização. É precisamente desta dicotomia entre a abstracção e a concretização que vive a compilação On Paper. É que, partindo de uma realidade concreta – o sample com papel a ser rasgado -, o seu processamento será sempre uma abstracção em relação a esta, bem como a construção de uma nova realidade concreta. Em suma, uma faixa que parta numa direcção mais abstracta em relação ao ponto de partida poderá também aproximar-se de uma realidade musicalmente mais concreta (ou não).
O exemplo pode ser materializado pelas duas faixas de b.Z_toneR; “Let’s Get Lost” atira para memórias recônditas a sua génese para se aproximar de terrenos convencionais, enquanto que “In and Out of Love” tem ainda os golpes desferidos no papel – sendo também uma faixa musicalmente mais abstracta. Na mesma linha temos o tema de Stephan Mathieu, circular como o silvo de um carrossel envolto em algodão doce (os rasgões andam lá longe, imperceptÃveis). Com Vitor Joaquim acontece o mesmo, com o segundo tema, mais incisivo e rÃtmico, a adquirir uma maior personalidade.
Queremos com isto dizer que On Paper ganha claramente nos temas em que a consciência harmónica, rÃtmica ou até melódica toma os comandos, tornando-se quase invisÃvel nos temas que se aproximem de realidades conceptuais/ambientais/sonoplásticas – riscar a(s) que não interesse(m). 6/10
Sérgio Gomes da Costa