Já houve um tempo em que a rádio era levada para o palco: John Cage fê-lo há umas boas décadas. Hoje, poucos mais a usam em concerto para além de Keith Rowe, que tem por hábito encostar um transÃstor à s cordas da guitarra. Do mesmo modo, o termo alemão “horspiel†para designar uma obra sonora/musical pensada especificamente para o medium rádio vai caindo em desuso, apesar de alguns persistirem em querer intervir nesse domÃnio, como Gregory Whitehead.
Foi com consciência deste apagamento da importância da rádio nas novas músicas que a portuense Crónica organizou estas duas compilações com o mesmo tÃtulo, uma exclusivamente áudio, em CD, a outra englobando vÃdeos, em suporte DVD. Entre os nomes compilados estão, no primeiro caso, @c, Autodigest, Heimir Bjorgúlfsson & Jonas Ohlsson, Boca Raton, Freiband, General Magic, John Hudak, VÃtor Joaquim, Stephan Mathieu, o.blaat, Pimmon, Pita (Peter Rehberg), Pure, Pablo Reche e Ran Slavin, entre outros, e no DVD a música de alguns destes nomes conjuga-se com as imagens de Antmanuv, Brigitta Bodenauer, Júlio Dolbeth, Tina Frank, Maximilian Janicke, Lia, OK Suitcase, Paulo Raposo, Sumugan Sivanesan, Telco Systems e Marius Warz, para só referir alguns.
A editora alerta no seu press release para o facto de que a rádio se constituiu como “o principal responsável por uma consciência do som para além do domÃnio restrito da música†e é precisamente isso o que está em causa nestas edições, muito em especial a rádio produtora de ruÃdo branco, estática e parasitagem sonora. É este, sobretudo (as excepções são, por exemplo, a voz radiofónica de Geoge W. Bush utilizada por tilia ou os samples de Manu Chao manipulados por Cáncer), o espectro de sons que serve como matéria-prima para os participantes em “Essays on Radio: Can I have 2 minutes of your time?†– todos eles com actividade no domÃnio da electrónica e da electroacústica experimentais. Em peças exactamente com a duração de dois minutos, cada um dá a sua perspectiva do mundo acústico proporcionado pelas ondas hertzianas, com toda a sua carga de indeterminação e aleatoriedade. Os vÃdeos, geralmente de produção digital (o que significa que, em vez de imagens reais, nos deparamos com grafismos vários), lembram-nos, no entanto, que outras tecnologias, e designadamente as visuais, se juntaram à rádio, o primeiro meio de difusão.
Rui Eduardo Paes