Interessante abordagem sonora das questões espaciais é a que nos mostra o artista suÃço Gilles Aubry em recente edição na portuguesa Crónica. Residente em Berlim, Aubry realizou no Inverno de 2006 uma série de gravações nas traseiras de edifÃcios residenciais da cidade, com o objectivo de explorar a interacção entre sons ‘públicos’, próprios das frentes urbanas, sons ‘privados’, nascidos na intimidade dos pátios, e todo um conjunto de sons situados na fronteira entre ambos os espaços. Aubry põe em evidência o modo como aqueles espaços podem funcionar como caixa de ressonância do que se passa tanto em casa como na rua, em diversas distâncias e profundidades de campo. Berlin Backyards (Crónica 036) dá-nos uma perspectiva pessoal do modo como se exerce a representação acústica da vida de todos os dias, observada por alguém que é simultaneamente estranho e próximo dos acontecimentos. O trabalho é, assim, a tradução sonora desse tipo de ambientes humanos e industriais, montados numa composição electrónica que beneficia da utilização de técnicas como colagem, edição e justaposição. Resulta num fluxo sonoro contÃnuo e homogéneo, rico em sinais de longa, média e curta distância, captados a partir de diferentes pontos da panorâmica. Além da tarefa básica que o ouvinte pode realizar, a de procurar identificar cada sinal sonoro, atraente neste projecto é, mais que tudo, tentar perceber as qualidades acústicas do espaço envolvente, os vários centros e as muitas periferias em que a ‘acção’ decorre, bem como as mutações que o espaço vai sofrendo nas suas caracterÃsticas morfológicas.
via Jazz e Arredores