Músico electroacústico e videasta com formação em filosofia e cinema, Paulo Raposo está em fase de particular afirmação. Vimos recentemente o espectáculo intermedia que idealizou com base num texto de Raul Brandão, «Húmus», e com as colaborações de Carlos “ZÃngaro†e do actor António Saboga, e assistimos à s suas manipulações vÃdeo no espectáculo «Senso», do já referido “ZÃngaroâ€, estreado em Novembro passado – seguem-se agora três discos de uma assentada, cada qual mais entusiasmante do que os outros. «Turning Point» é o seu primeiro solo, ainda que integre algumas passagens da gravação de um concerto em trio com Jason Khan e Carlos Santos, na ZDB de Lisboa, sendo o mais orgânico e profuso, em termos sonoros, de todos eles. «Insula Dulcamara» é a tão esperada continuação discográfica do projecto Vitriol, estreado com «Randonée 0.06», ainda que o nome do duo tenha caÃdo. E se aquele outro trabalho nos revelou uma abordagem despojada e minimalista (que não minimal) da sÃntese granular, este faz maior uso de “field recordingsâ€, estabelecendo ao longo da sua duração uma atmosfera que reconhecemos mas não podemos identificar – só um exemplo: o que parece ser a espuma das ondas do mar a desfazerem-se sobre a areia teve, na verdade, origem no ruÃdo do vento entre as ramadas das árvores, captado pelos microfones de Raposo e Carlos Santos e por eles manipulado. «Further Consequences of Reinterpretation», por sua vez, foi criado de parceria com o alemão Marc Behrens, tendo como base materiais fornecidos por Nosei Sakata (sons fora do alcance do ouvido humano) e trabalhados em cadeia por uma série de nomes da nova electrónica – Taylor Deupree, Hsi-Chuang Cheng, Aube, Richard Chartier, Akira Rabelais, John Hudak, Bernhard Gunter e Steve Roden – antes de a eles chegarem. Poucas vezes se fez nesta área tanto uso de dinâmicas e é isso, sobretudo, que conquista as atenções nesta “reinterpretaçãoâ€.
Rui Eduardo Paes