“Further Consequences of Reinterpretation” reviewed by Fluxeuropa

This whistling, whirring exploration of silence is at times very noisy indeed. Mostly, however, it exists in some hinterland space designed to make us feel uneasy, tapping and tugging at the senses like an icy liquid dropping slowly on to an exposed nerve. The reinterpretation made here is of Nosei Sakata’s “0.000”, a CD containing only sound outside the ranges of human hearing. Joining forces with the Portuguese sound and media artist Paulo Raposo, Marc Behrens – a renowned manipulator of field recordings, and composer of exquisite electronic soundscapes – uses previous interpretations of Sakata’s work by (amongst others) Richard Chartier, Aube, Steve Roden, Bernhard Gunter and John Hudak. These reinterpretations are further manipulated by Raposo, and then the two works – Raposo’s and Behrens’ – run alongside each other, forming a “friendly audio duel, like a ping pong match”. This produces music that you need to listen to, as opposed to music that you can’t hear. Absorbing, well-crafted, and a lot more fun than I thought it was going to be.

Stewart Gott

“Further Consequences of Reinterpretation” reviewed by Cultura / La Vanguardia.es

Pese a su cercanía, la escena experimental portuguesa goza de escasa difusión en España. Una auténtica lástima, pues se trata de una de las más activas y atractivas del sur de Europa. Queda esto claro en las últimas referencias del sello luso Crónica: tanto el colectivo audiovisual @c como Durán Vázquez – junto al australiano Sumugan Sivanesan – o Paulo Raposo – un un ejercicio de meta-remezcla que parte de una obra original de Nosei Sakata e implica también al alemán Marc Behrens – cada uno desde su muy definida gestualidad sonora, firman obras cuyo sentido de la vanguardia transciende lo local y sintoniza con lo más avanzado del panorama internacional.

Oriol Rossell

“Product 03” reviewed by Blitz

(…) A metade que lhe cabe do disco chama-se 04; um registo em que se encontra potencial na mesma cadência dos maneirismos. As melhores faixas acabam mesmo por ser aquelas em que se descortinam influências, evidentes mas não comprometedoras.

(…) (Em Incoherence Textures, de Cáncer) Sublimam-se desenvoltura e estruturas, a começar numa quase-mística sinfonia digital, passando depois por campos mais industriais, terminando como começa, em demanda de luz – é sintomática esta melancolia de quase tudo o que provém do chile. Cáncer é autor feito, melodia escondida por tessitura esboroada, ascensão interceptada para a luz. Álbum inteiro para este senhor, s.f.f.

Sérgio Gomes da Costa

“Product 03” reviewed by Bodyspace

Um cyber-vulcão expele uma lava composta por números binários numa média-metragem a preto e branco. Os compositores da banda-sonora dão pelo nome de Ok.Suitcase e Cáncer, e o estúdio responsável pelo lançamento é a Crónica – cada vez mais empenhada em promover electronica de qualidade, e merecedora da recente exposição de que tem vindo a gozar. Tal como o nome indica, Product 03 é o terceiro tomo da série Product. Sem complexos e com a magnificência de quem sabe bem o que quer e os meios para tal alcançar, faz-se crónica do processo criativo de dois novos talentos que fundem os seus contributos neste split CD que, em vez de reunir a arte de apenas duas partes, gera adicional interesse com a inclusão de um terceiro interveniente que faz deste disco um objecto triangular íntegro e inovador.

É Ok.Suitcase que enceta o delinear da figura geométrica. Além das múltiplas funções que acumula no projecto In Her Space, André Gonçalves explora, através do improviso e manipulação de som, novas sonoridades sob a designação de Ok.Suitcase. Mune-se da guitarra e recursos de laptop para pavimentar as suas texturas absorventes, assinalando a rota experimental com efeitos e samples (a abundarem em “04 0506-4” – vocalizações adultas vs. candura pueril de quem brinca no parque). 04 – a metade pertecente a Ok.Suitcase – propõe cinco exercícios que, por sua vez, ditam o direito à alegoria. Preenche o silêncio de uma manhã submersa no aeroporto da Portela ou um tortuoso final de tarde vivido em angústia. Efectua uma oscilação pendular entre a melancolia e o júbilo conforme o estado de espírito de quem o escuta. Foco apontado para os seus drones imensos e terceira faixa, prenhe de uma toada mais industrial minada por um crepitar incessante.

O caso de Cáncer é ligeiramente diferente. Ainda que quaisquer comparações sejam traiçoeiras, é notável que o projecto orientado pelo músico chileno evidencia maior maturidade, provavelmente devido à sua condição mais convencional e acessível. Incoherence Textures aquece motores em modo Thunderbirds (a febre voltou) com um loop à Boards of Canada a servir de combustível. O mote está lançado e a porção a cargo de Cáncer contrasta da inversa, desde o início, pelo tom lúdico que percorre as faixas, enquanto vários acrescentos – quase sempre beats discretos, lubrificados e epilépticos – vão sendo adicionados e subtraídos à estrutura sonora. As suas faixas valem-se de uma simetria e ressonância hipnóticas que acabam por resultar em algo de dançável. Todos sabemos que os músicos sul-americanos têm uma sensibilidade superior para lidar com o ritmo. Jorge Cortés prova que isso lhe corre no sangue, e consegue transpor esse talento nato para a sua música. “Corre” balouça como um ventre à luz da lua taitiana e a última faixa coloca a cereja no topo do bolo, deixando água na boca de quem, como eu, fica à espera de novidades do correspondente da Crónica em Santiago do Chile.

A concluir o triângulo, menção honrosa para o grafismo do mais impressionante booklet que me passou pelas mãos este ano. Se os pomposos vinis de Led Zeppelin deixam todos boquiabertos, não será menor o impacto provocado pela brilhante demonstração de criatividade da dupla InsertSilence que transforma o disco numa obra de arte e item de coleccionador a ter em conta. Após trabalhos efectuados para entidades tão diversas como Björk ou Nike, Amit Pitaru e James Paterson abençoam-nos com um conceito gráfico simplesmente assombroso e que vale o preço do disco por si só. Em ano de desmedido patriotismo, aqui fica mais um triunfo luso. Sinal verde para quem procura novos horizontes para os seus horizontes. Avançar sem preconceito.

Miguel Arsénio

“Product 03” reviewed by Loop

This it is the third CD of the “Product” series of this label from Porto, Portugal. This time Portuguese André Goncalves, aka Ok. Suitcase, and the Chilean Jorge Cortés with his project Cáncer are the new artists incorporated to Crónica’s roster.

In 1999 Goncalves started manipulating sounds and improvising and two years later he starts his project “Ok. Suitcase” that takes him to concentrate in the field of Max/msp programming and the sound art. On the other hand, Cortés it is one of the founder members of the Chilean independent imprint Ojo de Apolo (ojodeapolo) in which he develops his project Cáncer from 1997 to 2002 releasing four albums and an EP of remixes. From 2002 onwards he works under the Receptor moniker in the field of click house and minimal (checkout sinergy-networks).

With “04” Ok. Suitcase bets by the decomposition of sounds in order to reconvert them in unrecognizable fragments. Glitch, loops, field recordings and processed voices conform the sonorous frame of this Portuguese musician. On the other hand, in “Incoherence Textures”, Cáncer works with melodies in a more evident form, loops, granular sounds and microrhythms.

Guillermo Escudero

“Product 03” reviewed by Vital

Ok.Suitcase is André Goncalves, connected to Grain Of Sound label, has an EP on Stasisfield and also a very quiet track on one of the .microsound mailing list’s mp3-projects (signed as Specimen there). I know I liked Ok.Suitcase’s music I’ve heard before quite alright, and compared to the new pieces here I can say before it was quieter and more calm, which is something I liked, specially ’cause it’s mainly improvised music which can be related to the lap-top improvisers like Fennesz and Vladislav Delay. Here Ok.Suitcase offers 5 pieces. The label’s info says he uses guitar and computer as main instruments. The guitar is recognizable in the first track and sometimes elsewhere, but even when it is it’s treated enough in various ways and there are other sounds too equally present or even more pointed out, like crackles on the surface, rumblings and background atmosphere. I think the general ideas here are very much alright. They’re developed differently in the tracks, sometimes more sometimes less. It would be good though if there are more different sounds, the treated voices in the 4th track are a good surprise. And even more important, the balance of the elements and the intensity of the music could be better, that’s always important for improvised music. In my opinion those things work best in the 5th and in the 2nd track. Although I generally like this music, I’m not as much impressed with everything as I expected.

On the other side of the CD there’s Jorge Cortes who have been making music as Cancer from 1997 to 2002 and now it’s released. His music from 2002 onwards is more minimal click-house. Here we find 6 tracks by him. The rhythm, more obvious or deconstructed, is much more present here. Sometimes it’s like listening to Frank Bretschneider.

Cancer likes those fractured but still rhythmic spaces, like in some abstract dubby tracks from Vladislav Delay. So what’s he doing, improvising with rhythms maybe? Not really, it’s still too fixed. Or maybe this is blurry mutating music that lead Jorge to the click-house sound. Who knows? I hope the house is more alright now.

BR

“Product 03” reviewed by ei magazine

Crónica’s Product series splits an album between the artists Ok.Suitcase and Cáncer (Chile). Ok.Suitcase explores its technical composition skills with the immanently recognizable palette of granular synthesis. Here, looped, wavering harmonics languidly float through textural density. Whether conducted with vocal samples or electronic gestures, the repetitions are short and intensive, yielding a mounting atmosphere of tension. There remains just enough room for contemplation and thus mental breathing space. By the last track, the friction has shifted somewhat from self-destructive impulses to a relaxation of the senses. Cáncer explores an entirely different aspect of the loop: its ability to differentiate. Opening with synthesizer refrains reminiscent of Boards of Canada, the eternal return colors its drawn-out washes in harmonic hues, stopping just short of forming a “song”. From then on, Cáncer descends into permutations of minute rhythmic glitches and filtered atmosphere, at its best when articulating cavernous, almost underwater spaces. The negotiation between quanta and macroscopia is what signals this moment – found throughout these works – as significant within the realm of deep listening.

Tobias C. Van Veen

“Product 01” reviewed by Ikon

Spannend: zwei Künstler mit höchst unterschiedlicher regionaler und musikalischer Herkunft, mit heterogenen Ästhetiken und Produktionsstrategien auf einer Split-CD. Der in Australien arbeitende Sumugan Sinavesan präsentiert in insgesamt 8 Tracks eine Auswahl experimentel-ler, oft sehr improvisiert klingender Soundcollagen, deren mal fragilere (“Sinus3), mal grob-körnigere (“One Note Solo3) Struktur vorschnelle Kategorisierungen immer wieder gekonnt unterläuft. Sinavesan, dessen sympathische Klangkörper u.a. das International Symposum for Electronic Art im japanischen Nagoya (2002) untermalten, kann auch auf einen breiten Erfah-rungsschatz als Rockmusiker bauen, was man in der von extremem Hall und ausufernder Distortion geprägten und entfernt an missbrauchte E-Gitarren erinnernden Exkursion von “Across3 noch vage zu erkennen glaubt. In gewisser Weise setzt Sumugan Sinavesan die Ex-perimente des Krautrock mit digitalen Mitteln fort.

Wo man Sinavesans Stücken einen avantgardistischen Impuls zur Formenimplosion anmerkt, beweist Durán Vásquez die größere Vielfalt. Der erforscht nämlich Klanglandschaften, die neben ausschweifenden Delay-Spielereien auch über rudimentäre Melodien (“Rochas no Ceo3) und Beats (“Virus Simplicity3) verfügen. Vásquez hat sich in den neunziger Jahren mit Techno und Ambient beschäftigt (“War Simplicity3), die Grenzen dieser Genres jedoch im-mer wieder kreativ unterwandert. Besonders sympathisch: In Vásquez´ Ästhetik begegnet man dem Werk eines musikalischen Autodidakten, der sich nicht selbst als übertrieben inno-vativ ausstellt, sondern stattdessen sehr unaufgeregt seine ganz eigene Suche nach neuen mu-sikalischen Ausdrucksformen betreibt.

“Product 01” reviewed by Bodyspace

Registam-se novos sinais de vida para os lados da etiqueta Crónica. Desta vez, responsabilize-se o projecto Product, uma série de split CDs que, com a música de Sumugan Sivanesan e de Durán Vázquez, se inaugura. Confrontação e fusão – diz-nos a press release que serve de promoção a este objecto – encontram-se no cerne da ambição destas edições. A concepção do produto não se encerra na música. Passa ainda pelos dois vídeos de Sumugan Sivanesan e pelas imagens que ilustram a capa do álbum, neste caso ao cuidado da artista suíça Maia Gusberti.

Spare Your Speakers, a primeira parte do produto assinada e registada no ano 2002 por Sumugan Sivanesan – um australiano que, durante os anos noventa, integrou várias bandas rock e que se envolveu na música experimental aquando do seu ingresso no mundo dos media audiovisuais – inunda-se, ao longo de oito faixas, numa exploração de polifonias comprimidas e na manipulação de sucessivos feedbacks. O conceito de espaço parece estar no centro deste trabalho, seja ele representado sob a forma de “volume, silêncio, a distância entre o campo estéreo ou a sobreposição de elementos”.

Dentro da experiência pouco comum que é ouvir este registo, é dada a possibilidade ao ouvinte de preencher de sentido o espaço que ouve, mesmo que, muitas vezes, se possa vir a sentir perdido. Umas vezes parece ouvir simplesmente o vento, outras uma máquina ensurdecedora cujo ruído que se prolonga num pesadelo interminável. Num momento, desce uns metros abaixo do solo para escutar a chegada de um metropolitano, noutro depreende vozes que proclamam palavras imperceptíveis. Às vezes sente agulhas a picaram-lhe os ouvidos, outras baixos a repetirem a mesma nota até à infinidade. Nenhum ruído aqui lhe é dado de forma imediatamente reconhecível, apenas lhe é oferecido a imaginar. Deste modo, Spare Your Speakers, por não ser necessariamente algo definitivamente bonito ou feio nem extremamente interessante ou enfadonho, acaba por não deixar marcas.

Por sua vez, Pigua, Megapigua, o “lado b” do split preparado por Durán Vázquez – um auto-didacta que encetou pelo mundo da experimentação nos últimos anos do século passado – apresenta ao ouvinte uma faceta mais dinâmica daquilo que a que se pode chamar música experimental. Aproxima-se do conceito de techno ambiental, sem nunca se prender a ele, porque “convenção” parece ser vocábulo que não consta do dicionário pessoal de Vázquez. Pigua, Meguapigua oferece-nos paisagens, muitas vezes cinzentas como as do booklet do CD, sacadas a um sonho estranho e, por vezes, horripilante que já tivemos, instalando no ouvinte uma sensação não muito distinta da experienciada, noutras circunstâncias, aquando da audição da música criada por Alan Splet e David Lynch para a banda sonora de Eraserhead. Os efeitos de imitação e de insolência do ruído são uma constante mas são sempre abordados de uma forma perspicaz e apaixonante.

“Monsanto, East St. Louis, Illionis”, um velho tema techno, é aqui transfigurado numa “espécie de silêncio audível e rítmico como a morte que consumimos diariamente” (diz o booklet, o escriba concorda). Por seu lado, “Rochas no Ceo” – um tema construído a partir de um loop de guitarras distorcidas, gravações de ruídos como o do vento, e de uma linha de baixo – evoca as rochas que no tempo da guerra eram propagadas no céu, representadas, por exemplo, pelo pintor surrealista René Magritte no seu quadro La Fleche de Zenon. Há a sensação de anúncio de tempestade e, simultaneamente, descortina-se a permanência de um som que não foge, mas que paira. No tema que fecha o disco, “Death Simplicity”, há um crescendo de vozes distorcidas e incompreensíveis que vão instalando um caos incómodo, sob um fundo de electrónica avariada. Os últimos segundos ficam por conta do vento que se cala, de rompante, aos 55 minutos e 58 segundos que se seguem ao início desta viagem pouco convencional.

A servir de ponte entre a obra de Sivanesan e a de Vázquez ouve-se um silêncio de trinta e dois segundos. Não serão universos completamente alheios os destes dois artistas, mas há algo que se ganha largamente aquando da audição da segunda parte deste split. O silêncio, enquanto passagem, parece querer anunciar um universo mais forte e envolvente. Pigua, Megapigua é uma viagem que fica entranhada na memória. Permanece viva dentro do ouvinte.

Tiago Carvalho

“Product 01” reviewed by Blow Up

Si tratta di uno split CD con la prima metà occupata dall’album “Spare Your Speakers” dell’australiano Sivanesan, che aggiusta le intuizioni dei Panasonic di “Kulma” purgandoli di ogni parvenza ritmica e aggiungendo un po’ di casualità digitali. La seconda metà è appannaggio di Vázquez, che con “Pigua, Megapigua” spolpa similari frattaglie di glitch e poi le rimpasta in un indistinto polpettone ambientale da cui, con il supporto di un paio di scatole di Roipnol e un bottiglione di vodka, si arriva ad avere visioni e suggestioni celestiali. L’idea più originale di quest’uscita à che metter insieme, in pratica, due possibili diversi CD in uno solo.

Potrebbe e dobvrebbe diventare un trend, di modo che anche noi potremo risparmiare spazio nella nostra discoteca.

Stefano I. Bianchi